sexta-feira, 29 de maio de 2009

O futuro do ensino - Editorial Folha de São Paulo

Falta apenas os governantes perceberem que precisam valorizar a carreira do magistério, não apenas com bonificações eventuais, mas com salários elevados ao nível de cobrança que se faz a uma classe infelizmente descontente e desprivilegiada.
Fonte: Folha de São Paulo - Editorial - 29/05/2009
O CENSO da educação básica de 2007, preparado pelo Inep (instituto de pesquisas do Ministério da Educação), traça um perfil preocupante do professor brasileiro nas redes pública e privada de ensino. Em todos os níveis de instrução há parcelas significativas de mestres, no mínimo 13%, sem a formação mínima exigida em lei.O caso mais grave se localiza entre a 5ª e a 8ª séries do ensino fundamental, com 27% de profissionais não qualificados. Um contingente pequeno, 16 mil do 1,8 milhão de docentes, só estudou até o fim do ensino fundamental. Pela legislação, não poderia dar aulas.Particularmente alarmante é a situação no ensino de disciplinas estratégicas -como física e matemática- para o desenvolvimento profissional na economia tecnológica dos tempos atuais. No ensino médio, só um quarto dos professores de física tem licenciatura na área. Em matemática, 34%.Mesmo não sendo a única mazela da educação nacional, a qualificação deficiente dos mestres ajuda a explicar o péssimo desempenho de nossos estudantes em provas internacionais. Resulta, com certeza, da contínua desvalorização da profissão docente, para a qual contribuiu uma gama de fatores que não cabe analisar aqui. Importa é olhar para o futuro, que apresenta duas ordens de desafios.A primeira consiste em dotar o magistério da condição de disputar os melhores talentos saídos das universidades. Com um rendimento médio de R$ 1.335 por mês, segundo a Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) de 2007, parece difícil. Entre 30 ocupações com nível universitário listadas na Pnad, as cinco mais mal remuneradas são todas docentes.Melhorar os salários, assim, constitui providência imperativa, mas não suficiente. Nenhum jovem promissor vai atrelar seu futuro a uma profissão que não ofereça uma carreira estruturada e boas condições de trabalho, o que inclui disciplina e segurança no ambiente de ensino. Além disso, há que dotar o recém-chegado do ferramental didático que as faculdades de educação em geral abandonaram, em favor de divagações teórico-sociológicas.A mesma deficiência precisa ser sanada no caso dos professores que integram as redes públicas de ensino e nela ficarão por anos ou décadas, a segunda ordem de desafios. Antes, ou em paralelo, urge fazer com que satisfaçam ao menos a exigência legal de graduação universitária, dificuldade que os governos federal, estaduais e municipais bem ou mal já atacam.Aqui e ali, sistemas de avaliação e bonificação por desempenho começam a fornecer incentivos corretos para que professores prossigam aperfeiçoando-se. Ainda é cedo para verificar a eficácia desses dispositivos, mas eles decerto não dispensam o investimento na requalificação do quadro docente atual. O maior desafio é elevar o desempenho médio dos alunos ao menos no que é essencial -a escrita, a compreensão de textos, as operações matemáticas.

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