terça-feira, 27 de agosto de 2013

Ensino paulistano retido no ciclo...

Sei que a população de modo geral e muitos professores estão felizes com a possibilidade de retenção dos alunos em vários anos ao longo do ensino fundamental.

O aluno de modo geral continuara perdendo com toda essa situação. A prefeitura mais uma vez coloca a discussão em um plano superficial e não entende ou não quer assumir que é sim a maior responsável pela aprovação automática em seu sistema de ensino.

Curioso é saber que estão desconstruindo o que Paulo Freire levou anos para tentar colocar em prática. Com a diferença que ao longo desses anos vários foram os prefeitos e logo seus secretários de educação que ajudaram a melhorar ou piorar o regime de progressão continuada.

Vamos entender o que a progressão de forma clara e simples. Todos os alunos devem ser classificados para o ano seguinte tendo ou não dificuldade de aprendizagem. Os alunos que apresentam dificuldades devem ter uma ficha com todos os problemas apresentados ao longo do ano, para que o professor do ano seguinte possa ter esse diagnóstico e pensar na melhor estratégia para potencializar as habilidades e competências que não foram internalizadas, mas que podem ser desenvolvidas se bem orientado pelo professor. Claro que isso demanda de acompanhamento contínuo bem como recuperação paralela. Embora a própria LDB garante estes mecanismos de apoio como direito do aluno e dever do sistema.

Entretanto isso não acontece, o que ocorre e que todos os alunos são classificados para o ano seguinte e nada é feito, nesse caso então temos a aprovação automática.

Fico eu me perguntando, qual poderá ser o efeito concreto de permitir novamente a retenção que deve ser sempre o ultimo instrumento de intervenção pedagógico, mas que em sistemas precários como do município tornarão-se o primeiro instrumento. Coitado do aluno, que já é vítima de um sistema altamente excludente, que o excluirá ainda mais. 

Claro que alguns ou muitos irão dizer que é um absurdo que temos que reter mesmo o aluno. O problema que a exceção vai virar regra. E ai salve-se quem puder.

Ações paliativas podem até ter um certo resultado, mas não se sustentam. Sem contar algumas incoerências, como pode dividir o ensino fundamental em 3 ciclos e no último o aluno pode ficar retido todos os anos. Ou o regime e seriado ou em ciclos, os dois não combinam. Já é difícil para a rede entender conceitos claros, imagine os conceitos que nem quem os escreveu sabe explicar. Difícil, pois é, pior que esta pode ficar e muito. O problema não será com o imediatismo da proposta, mas o que ela provocara em médio e longo prazo. Talvez voltaremos aos anos 96, quando nossos índices de retenção estavam em torno de 60%. Alguns vão dizer, aquele tempo que era bom. Será?

Respeito os que defendem a retenção, mas não posso concordar que a instituição que tem por principio garantir um direito constitucional que diz que todos tem direito de aprender, possa se pautar pela segregação e um retrocesso, pensado na melhora de fato da educação paulistana ou para agradar pais, professores, sociedade e um segunda mandato ou outro cargo no executivo. Tenho sempre esse receio, dessas ideias milagrosas, que saem do nada e partem para lugar algum.

Acabar com as avaliações institucionais criadas pela sme também é um absurdo, usar o argumento que o governo federal já propõe esse tipo de prova também é outro engodo. As avaliações para inferir o IDEB acontece de 2 em 2 anos, o que torna esses resultados longos demais para serem melhorados na unidade escolar. Mas talvez nesse caso o melindre esteja mais presente, pois já que não temos condições de criar algo melhor e não podemos dar crédito ao que é bom e já existe é melhor tirar de campo. E nítido o impacto dos resultados de avaliação na sme sp dos resultados das provas Cidade e São Paulo. Como indicador cumpria muito bem com sua função. Claro que algumas unidades faziam vista grossa, mas o importante era que esses dados eram disponibilizados e o gestor que tem compromisso tinha mais um importante diagnóstico em mãos.

Lição de casa, tenho a impressão que também descobriram a pólvora. Mentira dizer que há 21 anos não existe lição de casa. Mais uma vez Paulo Freire deve estar triste. Nunca com a progressão continuada ou mesmo com o construtivismo se manteve tal ideia absurda de que não existe lição de casa. De nada adiantara a sme sp impor lição de casa se o professor não corrigir a mesma. E o tipo de coisa que ficara para inglês ver. Mais um engodo educacional. Que os dados mostram que quem faz lição de casa aprende mais. Ninguém duvida e não é nenhuma novidade. Mas que não adianta colocar lição em cartilhas que obrigam todos os professores darem a mesma aula para todos os alunos do mesmo jeito, se no dia seguinte ninguém corrigir. Talvez nesse caso falte sensibilizar os professores da necessidade de corrigir a lição de casa, pq dar a lição de casa, não pode e não deve ser uma imposição do sistema e sim uma necessidade de cada docente em função do perfil do alunado que tem em cada sala de aula.

Uma coisa engraçada que não vi na proposta e a redução do número de alunos por sala. Isso sim, importante, comprovado por todos, que número de alunos interfere no processo de construção do conhecimento. Mas a própria sme sp para tentar minimizar o impacto que a falta de vagas causam nos meios midiáticos, faz o inverso, enche a sala de aula com mais alunos. Claro que com isso a maioria não aprenderá e ficará retida. Quero saber se construirão mais salas para atender a demanda de alunos retidos, pq não pensem que será pouco. Claro ao menos que a sme sp proponha de forma velada limites para retenção em cada escola. Não duvido que isso será uma das saídas. Vamos esperar para ver.

Outra coisa, as escolas precisam de equipamentos, condições para os professores exercerem uma boa docência. Mudar leis no papel sempre é muito fácil. A prática e a realidade se mostra de outra forma.

No final de verdade quem sofrerá com todas essas inovações será mais uma vez única e exclusivamente o aluno. E não duvide se o professor for o único culpado.

Professoras da rede pública tiram dinheiro do bolso para comprar equipamentos para escola

O mérito das educadores ninguém nega. Mas existe algo concreto, professor não tem essa obrigação. O sistema de ensino tem sim essa obrigação e nesse caso peca pela omissão e abandono das unidades. O pior exige dos professores malabarismo para garantir o processo de ensino e de aprendizagem, mas não faz absolutamente nada para melhorar e ainda coloca a culpa nas costas do professor e ainda tenta enganar a sociedade mostrando uma realidade que não existe nas unidades escolares. Triste e como digo sempre, pior que esta pode ficar e muito.

Fonte: Folha de São Paulo

“Se a escola pública oferece poucos recursos, a professora Verônica Eliane de Souza Batista, 42, não hesita em tirar dinheiro do bolso para tornar as aulas de biologia e química mais atrativas para os alunos. Sua lista de investimentos tem desde material em áudio sobre o corpo humano até um projetor multimídia e um microfone.

O mini-projetor com controle remoto custou cerca de R$ 1.300 e teve que ser parcelado em cinco vezes. Com o microfone e o amplificador, foram gastos outros R$ 340 --o piso salarial nacional de um professor é de R$ 1.567.

"No ano passado, um grupo de alunos preparou uma apresentação para um trabalho, mas não conseguiu mostrar para a turma porque o responsável pela montagem do projetor da escola ainda não tinha chegado. Fiquei bem chateada e decidi comprar o meu", conta.


'Chegava em casa estraçalhado emocionalmente', diz ex-diretor de escola.

Verônica garante que valeu a pena. "Acho que faz muita diferença, gosto de tentar sempre melhorar a minha aula, mudar um pouco a rotina. Comprei o equipamento faz uns dois meses e percebo que consigo prender mais a atenção dos alunos", diz ela, que dá aulas na zona leste de São Paulo.

O equipamento de som previne as inflamações de garganta, os antibióticos e as faltas - antes mais frequentes por causa da rouquidão constante.


Assim como Verônica, a professora de sociologia Valéria Tenório, 29, também cansou de disputar o único projetor da escola pública em que leciona e decidiu gastar R$ 1.800 – que corresponde a aproximadamente um mês de salário - para comprar um projetor.

"Eu uso para preparar aulas mais dinâmicas, trabalhar com imagens e vídeos. Sociologia não tem exercício na lousa, é mais verbal, mais teórica. Então, a aula não vai ser convidativa se eu ficar falando por 50 minutos em uma sala com mais de 45 alunos", afirma a professora da zona leste da capital.


As professoras dizem que existem projetores nas escolas em que trabalham, mas que os equipamentos são disputados e, às vezes, é preciso enfrentar problemas como tomadas que não funcionam e demora na hora de instalar a aparelho na sala de aula.

"Muitas vezes, você tenta falar e o aluno não presta atenção. Eu não acho que é culpa dele, nem todo mundo tem a obrigação de gostar de tudo. Mas se você se interessa em dar aula, o aluno valoriza", diz Valéria.


Para a professora Andrea Caldas, do setor de Educação da UFPR (Universidade Federal do Paraná), a atitude das duas professoras é um mérito, mas melhorar as condições de trabalho da categoria deveria ser uma prioridade dos governos.”