segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Crianças de 5 anos fazem programa de rádio em escola infantil em São Paulo

Iniciativas assim sempre são bem vindas. Como digo sempre boa vontade não vem por determinação legal. Parabéns aos educadores envolvidos no projeto.
Fonte: 30/08/2010 - 16h32 - MARIANA DESIDÉRIO - colaboração para a FOLHA
As crianças do 3º estágio da EMEI (Escola Municipal de Educação Infantil) Guia Lopes, no bairro do Limão, zona norte de São Paulo, têm cinco anos e ainda não sabem ler. Mesmo assim, elas já aprenderam a mexer em equipamentos de rádio e inauguram, nesta terça-feira, a rádio "Tem Gato na Tuba", dentro da escola.
Os temas dos programas feitos pelas crianças são decididos por elas. "A ideia é dar vazão ao protagonismo infantil. Eles definem o que querem falar e geralmente querem falar sobre o que conhecem", diz a diretora da escola, Cibele Araújo Racy Maria. No primeiro programa, o tema central é Pantanal. A diretora diz que a turma está estudando o assunto nas aulas e resolveu levar o tema para a rádio. As crianças escolheram falar ainda sobre temas presentes nos noticiários do rádio, como clima e trânsito.
O projeto abrange 210 crianças, dividas em seis turmas de 35 alunos. A média de idade é de cinco anos e muitos dos alunos que fazem os programas ainda não foram alfabetizados. Para lembrar suas falas, as crianças recorreram a imagens que expressam a ideia do texto. As turmas se revezam para fazer a rádio, a cada mês uma classe diferente prepara os programas.
Segundo a diretora, um dos objetivos do projeto é desenvolver a linguagem verbal não escrita. Além disso, ela diz que a rádio ajuda a "incrementar o processo criativo através do uso da tecnologia, desenvolver a comunicação e a adquirir autonomia".
A aceitação da rádio pelos alunos está sendo ótima, segundo a diretora. "As crianças não falam em outra coisa e as mães também apoiam, porque veem a alegria deles. Isso para a autoestima é fundamental. Queremos que se sintam capazes de fazer tudo o que quiserem."
De acordo com a diretora, a ideia da rádio surgiu depois que escola sentiu a necessidade de investir mais em projetos relacionados à musica. Foi montado um coreto, que inicialmente era usado apenas para tocar músicas durante os tempos livres. Agora o coreto é também a sede da "Tem Gato na Tuba". O nome da rádio chama a atenção. Cibele Araújo explica que "Tem Gato na Tuba" é uma música que fala sobre coretos, e fez parte da pesquisa das turmas sobre o tema.
O trabalho de tocar as músicas continua. Ficou com as crianças de 1º e 2º estágios, que têm em média 3 e 4 anos.

70% das faculdades públicas já adotam cotas ou bônus

Fonte: ANTÔNIO GOIS DO RIO Folha de São Paulo - 30/08/2010
Mesmo sem lei federal que as obrigue a isso, sete em cada dez universidades públicas no Brasil já adotam algum critério de ação afirmativa, seja ele cota ou bônus no vestibular para alunos de escolas públicas, negros, indígenas e outros grupos.
O levantamento foi feito pelo Grupo de Estudos Multidisciplinares da Ação Afirmativa, do Instituto de Estudos Sociais e Políticos, ligado à Uerj (Universidade do Estado do Rio de Janeiro). De 98 universidades federais e estaduais, 70 adotam ação afirmativa (71%). Em 77% dos casos, a decisão de adotar cotas ou bônus surgiu da própria universidade.
Em apenas 16 instituições, a ação foi motivada por uma lei estadual. Não há lei federal -um projeto tramita no Congresso- que obrigue estabelecimentos da União a adotar cotas ou bônus.
O trabalho mostra também que são alunos de escolas públicas os mais beneficiados e que as cotas são mais utilizadas do que os bônus.
No caso das universidades que trabalham com cotas raciais, o critério utilizado para definir quem é negro ou indígena é quase sempre (85% dos casos) a autodeclaração.
Nos demais, há exigência de fotografias ou comissões de verificação, métodos polêmicos por barrar candidatos que se consideram negros.
Para João Feres Júnior, um dos pesquisadores, em quase todas as 40 universidades que beneficiam negros, há preocupação de evitar que as vagas sejam ocupadas pelos de maior renda -o candidato deve comprovar carência ou estudo em escola pública.
DEBATE
Para ele, o crescimento de instituições que, sem a obrigação legal, adotam ações afirmativas reflete o amadurecimento do debate sobre a desigualdade racial no país.
Ele diz que, quando coordenou o Diretório Central de Estudantes da Unicamp, em 1986, o tema não era discutido nem nas ciências sociais. "Não passava pelas nossas mentes discutir a pauta."
Mesmo quem se beneficiou do avanço nas políticas de ação afirmativa aponta a falta de debate. É o caso de Wellington Oliveira dos Santos, 25, que se formou em psicologia em 2009 na Universidade Federal do PR, onde ingressou na cota para negros.
Santos reclama que, na época de sua graduação, não houve debates em seu curso sobre os motivos que estão levando as universidade públicas à adoção das cotas.