segunda-feira, 11 de outubro de 2010

SP dá 92 licenças por dia para docente com problema emocional

Falta de apoio, de condições de trabalho, de dignidade, de respeito, atenção, infraestrutura, material didático, lousa decente, giz que escreva, de ambiente equilibrado, limpo, prazer e vontade de preparar uma boa aula. Baixos Salários, carga horária excessiva, burocrácia administrativa que toma boa parte do horário pedagógico, indisciplina, indisciplina e mais indisciplina. Bem com tudo isso, o professor só pode mesmo pedir afastamento da função, pois a cada dia fica mais insuportável pensar na regência de classe. Os alunos podem e fazem de tudo na escola, menos estudar, prestar atenção e respeitar o professor e não me venha com essas patacoadas de que o professor tem que adequar a essa nova realidade, que o professor precisa dar uma aula que chame atenção. Tudo balela, pois nas escolas não tem salas de multimeios equipadas para todos os alunos de uma classe, isso quando não tem que dividir o tempo dos alunos, com toda a população que ocupa a "lan house" que existe nas escolas. Ou seja pensam em toda a população que não é errado, mas esquecem o principal o professor e por vezes os próprios alunos. Mesmo o professor que realiza um excelente planejamento, que consegue preparar uma ótima aula, tem problemas em sala de aula, hoje a regra é a indisciplina, antes que alguém venha falar que são situações pontuais. Excessão são as escolas organizadas, que respeitam o professor (embora acho dificil a escola respeitar, quando o próprio governo ignora e desrepeita o tempo todo), que tem todos os recursos. A realidade choca é e muito triste. O problema e quando todos tentam fazer dessa realidade um faz de conta e cria esse mundo no imaginário da população, mas que na realidade dos docentes e discentes não existe. O governo de modo geral é autoritário, reconhece a profissão apenas nas eleições e depois esquece e esquece mesmo, só aparece, esse sim, pontualmente, quando alguns casos são notificados e então o governo se faz presente apenas para atender os meios de comunicação e nunca para ajudar a escola, ou os professores. Em São Paulo, muitos chegam ao extremo, em função de não poderem se ausentar para tratar da saúde, pois perde dinheiro, perde bônus, perde tudo, inclusive a saúde, e quando não dá mais chegam ao extremo. E depois querem colocar a culpa nos professores? não. A culpa é do governo. Meu carinho, respeito e atenção a todos os professores que diariamente lutam bravamente para transformar e mudar essa realidade, garantindo uma sociedade justa e fraterna.
Fonte: 11/10/2010 - 10h27 TALITA BEDINELLI - Folha de São Paulo
Leonor, 58, professora do 3º ano do fundamental, passou a ter crises nervosas durante as aulas. Várias vezes gritou com os alunos e chorou em plena sala. Ficava tão nervosa que arrancava os cílios com as próprias mãos e mordia a boca até sangrar.
Ela procurou ajuda médica e hoje está de licença. Casos como o dela são comuns entre professores.
A professora Nadia de Souza, 54, do Rio, que diz ter sofrido ameaças, toma medicamentos e não quer voltar a dar aulas
Recentemente, dois docentes viraram notícia por ataques de fúria na sala de aula: um, de Caraguatatuba (litoral de SP), gritou e xingou alunos e danificou cadeiras da escola. Outro, do Espírito Santo, jogou um notebook durante um debate com estudantes de jornalismo.
Relatos de professores à Folha mostram que a bagunça da sala, somada às vezes a problemas pessoais, leva a reações como batidas de apagadores, gritos, xingamentos e até violência física. Atos que acabam afastando muitos docentes das aulas.
Só na rede estadual de SP, com 220 mil professores, foram dadas, de janeiro a julho, em média 92 licenças por dia a docentes com problemas emocionais. No período, foram 19.500 -o equivalente a 70% do concedido em todo o ano de 2009 por esses motivos, diz a Secretaria de Gestão Pública de SP.
O dado não corresponde ao número exato de professores, pois um mesmo docente pode ter renovado a licença durante este período.
"Batia com força o apagador nos armários. Tive muitas crises de choro durante as aulas, gritei com alunos", diz a professora Eliane, 64.
Ela está afastada por causa do estresse. "Eu não quero mais voltar para a sala de aula. Parecia que eu estava carregando uma bola daquelas de presidiário nos pés."
Daniela, 40, também não quer mais voltar. Ela tirou uma licença de 90 dias depois de "explodir" na sala de aula e gritar com os alunos. Foi socorrida por colegas.
Docente do 3º ano do fundamental (alunos com oito anos), diz ter sido ameaçada e agredida pelos estudantes.
As entrevistadas tiveram os nomes trocados.
Casos de "explosão" como esses podem ser sintomas de um distúrbio chamado histeria, segundo Wanderley Codo, do laboratório de psicologia do trabalho da Unb (Universidade de Brasília).
Desde 2000, o professor desenvolve pesquisas com professores e funcionários da área de educação e constatou que 20% dos professores sofrem de histeria.
"O trabalho do professor é um trabalho de cuidado, que exige a necessidade de um vínculo afetivo. Mas um professor que tem 400 alunos não tem como estabelecer esse tipo de vínculo."