terça-feira, 19 de maio de 2009

Nota de Corte

Fonte: MARCOS NOBRE - Folha de São Paulo
VEZ POR OUTRA aparece quem ainda tenha saudade do tempo em que a seleção para a universidade era feita pelos professores dos próprios cursos.Havia bibliografia específica, banca de entrevista, dissertação. Mas era uma meia dúzia de gatos pingados que selecionava outra meia dúzia de gatos pingados. A partir do final da década de 1960 a universidade pública começou a se expandir rapidamente. E quando muito mais gente tem condições de entrar na universidade, meia dúzia de gatos pingados não bastam para fazer a seleção.Foi quando nasceu o vestibular.Foi uma solução recebida com desconfiança na época. Mas que mostrou ter boa inventividade e uma relativa diversidade na formulação das provas.Com o tempo, as patologias da fórmula foram ficando cada vez mais evidentes. Alguns vestibulares de universidades de alto nível de qualidade acabaram tendo mais poder sobre o ensino das escolas do que o Congresso Nacional.Os vestibulares ficaram cada vez mais padronizados. Os cursinhos pré-vestibulares se tornaram grandes empresas e concentraram o mercado de preparação para o vestibular, estabelecendo uma uniformização segundo os parâmetros de três ou quatro vestibulares mais concorridos. Isso favorece abertamente quem tem dinheiro para pagar cursinhos, taxas de inscrição e viagens para os locais das provas.Todos esses defeitos evidentes não impediram o surgimento agora de saudosistas de um vestibular que ainda nem se foi por completo.De novo: o que se tem é muito mais gente em condições de disputar uma vaga na universidade do que antes. Tanto pela expansão de vagas nas universidades federais como pelo aumento do número de alunos que conseguem acabar o nível médio. A inventividade que esteve na criação dos vestibulares não passa agora de uma conversa interessada: desde cursinhos e burocracias universitárias até editoras e autores de livros.É verdade que o processo de implantação dessa nova forma de seleção tomará pelo menos uma década. Também a questão do sigilo do exame é muito grave e deve ser tratada com a seriedade devida.Mas União e Estados têm agora uma oportunidade única de retomar, junto com o Congresso Nacional, o controle sobre o ensino médio. E as universidades poderão ganhar em inventividade e eficácia, acrescentando elementos adicionais específicos de seleção para seus cursos.Fazer do Enem um exame de seleção de validade nacional vai colocar às claras não apenas interesses. Vai também mostrar que tem muito mais gente capacitada querendo estudar.

Estado dá livro com palavrão para aluno de 9 anos

Este é o padrão de qualidade da educação estadual que tanto se divulga. Será que ninguém analisou este livro antes? ou será que as compras são feitas sem critérios?
Fonte: 19/05/2009 - Aline Mazzo - do Agora
Palavrões, textos com conotação sexual e preconceituosa e muitas frases de duplo sentido. Esse é o conteúdo de um dos livros enviados às escolas pela Secretaria de Estado da Educação para servir de apoio para alunos da 3ª série do ensino fundamental, com idade média de nove anos. O livro é "Dez na Área, Um na Banheira e Ninguém no Gol". Organizado por Orlando Pedroso, fala de sexo e futebol e foi comprado pelo governo José Serra (PSDB) para uso na rede. Mas a obra causou indignação entre os educadores. Em uma das 11 histórias em quadrinhos, há a ilustração de um jogador enfiando o dedo no ânus de outro, dando a entender que ele é homossexual. Também há desenhos de homens segurando seus órgãos genitais e de mulheres praticamente nuas na praia. O conteúdo sexual é reforçado pelos diálogos. Um personagem diz: "Eu vi as coxa das mina do Tchan" (sic). O outro responde: "Eu chupava elas todinha". Frases de duplo sentido, como "Pra visitar sua mãe tem que pagar entrada?", permeiam parte das histórias. Em Santo André (Grande SP), professores reclamaram para a Diretoria de Ensino. Houve também críticas de professores da zona leste e norte de São Paulo. No ABC, foi emitida uma circular pedindo o recolhimento do livro. O comunicado chegou na última quinta. "Não dá para mostrar isso nem para alunos do ensino médio", disse uma coordenadora que reteve o material. Perplexida
Especialistas Ouvidos pelo Agora se mostraram perplexos com a indicação do livro para um programa de incentivo à alfabetização. "Uma coisa é ouvir o palavrão na rua. Outra é a escola endossar o palavrão. Oferecer um livro desse é dar a chancela de que isso é certo", critica Vitor Paro, professor titular da Faculdade de Educação da USP. Para ele, a criança de nove anos não tem personalidade formada para essas informações. "É pornografia." Já a coordenadora do curso de psicopedagogia da PUC (Pontifícia Universidade Católica), Neide Noffs, aponta o apelo sexual vulgar e expressões contra a cidadania e valores que a escola deveria reforçar como principais problemas. "Não acredito que um educador tenha aprovado a compra desse material. Hyrla Tucci, professora de história da educação da PUC, afirmou estar chocada. "Se eu estou assustada, imagine os pais quando virem o que era para ser lido por seus filhos. O gerente de marketing da editora Via Lettera (responsável pelo livro), Roberto Gobatto, afirmou que apenas atendeu ao pedido de compra do governo (no valor de cerca de R$ 35 mil).