quarta-feira, 17 de outubro de 2012

O quase-mercado escolar

Nenhuma novidade. Mas vivemos em um Mundo em que todos fingem que não sabem de nada, que ninguém enxerga nada. Essa prática é muito comum. Escolas excludentes cobram uma fortuna de mensalidade e formam a elite de nossa sociedade. E Ninguém faz nada.

Fonte: Revista Educação

A pesquisa Processos velados de seleção e evitação de alunos em escolas públicas, do Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária (Cenpec), indica que escolas de "boa reputação" conseguem, por meio de práticas veladas, selecionar os alunos que entram e, principalmente, que vão permanecer na unidade, como mostra a reportagem "Em busca dos melhores".

Os mecanismos são variados. Um deles, por exemplo, é a consulta ao histórico do aluno no momento de um pedido de vaga. Ao tentar escolher seus alunos, as escolas visam a manutenção do que consideram um bom ambiente escolar.

O estudo conduzido pelo Cenpec entrevistou funcionários que trabalham em escolas públicas e que estão diretamente envolvidos no processo de matrícula: secretários, agentes escolares e auxiliares técnicos de educação. Confira, abaixo, alguns desses depoimentos.

"Em algumas escolas nós sabemos que, se o aluno é da escola X, [dizem:] eu não tenho vaga, mas se é da escola Y, eu ainda aceito. Então, tem ainda alguma coisa nisso, em relação ao pseudo-desempenho desse aluno"

"A gente diz assim: ''não fica esperando, porque pode não aparecer a vaga, vai ser muito difícil de aparecer vaga, porque está superlotado''. A gente já fala assim para a pessoa não ficar com aquela esperança, e aí já orienta: ''olha, vai a tal escola, vai a tal outra'' e aí a pessoa não fica presa naquela esperança de conseguir vaga na escola"

"Se a mãe manifesta, se ela argumenta que "lá tem um ensino melhor" vem com um argumento bacana, então vai pra lá [o pedido é aceito]. Agora, [se a justificativa é] simplesmente por mudar, aí nós investigamos [o histórico do aluno] até pra ter um feedback"

"Transferência a gente não tem como avaliar. Agora, de final de ano a gente tem. Porque, se o menino está sendo transferido no final do ano e mora no bairro, o que ele tem? É que foi expulso"

"Não, a cor, o sexo, nada disso influenciava. [Quem era aceito] Era aquele que não ia dar problema para ninguém, para direção, para os outros alunos, aqueles que você achava que eram mais calminhos"

"A gente liga na escola para ver como é o comportamento do aluno. Eles não falam: ''não matricula''. Eles falam: ''ah, vocês sabem como é, né? Ele foi convidado''- a gente não fala expulso - ''ele foi convidado a se retirar''"

"Quando vem de outra escola, porque às vezes vem de um outro bairro que a gente não conhece a secretária, a gente abre o sistema para ver como são as notas, se não tem muita falta, se tem nota vermelha"

"Tem alguns casos, por exemplo, de criança que estudou e foi retida por falta muitos anos seguidos, foi e voltou por várias escolas, o diretor acaba barrando sim a volta dessa criança"

"Tem uma família que tem o sobrenome XXX e todos eles têm algum problema. Os pais não trabalham, querem Bolsa Família, estão todos inscritos nesses projetos sociais, mas não trabalham, só ficam recebendo realmente as bolsas. Então todo aluno que chega lá com esse sobrenome já sabe que... [interrompe]"

"Se é um aluno problema, é passado pelo Conselho Escolar pra ele ser expulso. Mas hoje em dia eu vejo que a coisa é meio liberada, deu problema, vai embora. Tipo: ''joga a bola pro outro, não vamos trabalhar com esse menino''"

Em busca dos melhores

O antigo slogan de uma marca de biscoitos fazia sucesso ao perguntar se o produto vendia mais porque era fresquinho ou se era fresquinho porque vendia mais. Essa mesma lógica pode ser aplicada ao se analisar os resultados de índices educacionais. As melhores escolas são melhores porque têm bons alunos ou têm bons alunos porque são as melhores?
 
A divulgação de mais uma edição do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) trouxe à tona novamente discussões sobre a qualidade do ensino no país. Todos tentam responder quais são as práticas e modelos que fazem uma escola ter um bom resultado no indicador. Mas, por trás dos números, estão práticas escolares e condicionantes que o Ideb não consegue mostrar - como, por exemplo, quem é o público que frequenta aquela unidade e como ele foi formado.

SENADO APROVA LIMITE DE ALUNOS POR TURMA NO ENSINO PÚBLICO

A medida é importante, mas deve vir com outras ações. Como formação, material de apoio e material para desenvolver a intervenção pedagógica, principalmente no bloco de alfabetização.

Fonte: Revista Época

As turmas de pré-escola e do 1º e do 2º ano do ensino fundamental da rede pública deverão ter no máximo 25 alunos. No caso das demais séries dessa etapa e do ensino médio, o limite é 35 estudantes. A restrição está prevista em projeto de lei aprovado nesta terça-feira (16) pela Comissão de Educação do Senado. A votação foi em caráter terminativo, ou seja, não precisa passar pelo plenário.

O texto, que altera a Lei de Diretrizes e Bases da Educação, agora será analisado na Câmara dos Deputados. O autor do projeto, Humberto Costa (PT-PE), destacou que o elevado número de alunos por turma impede o acompanhamento e o aprendizado de cada estudante da rede pública.

Pelo texto aprovado na comissão, uma vez aprovada pelo Congresso e sancionada pela presidenta Dilma Rousseff, a nova lei entrará em vigor em 1º de janeiro do ano subsequente ao da publicação no Diário Oficial da União.

Cadastro de superdotados

A comissão também aprovou hoje projeto de lei que institui o cadastro nacional de alunos com altas habilidades ou superdotados. Agora, a matéria segue para a apreciação da Câmara.

Pelo texto analisado em caráter terminativo, todo o procedimento previsto em casos de estudantes da rede pública superdotados será consolidado pela União em parceria com o Distrito Federal e os municípios. Dessa forma, os senadores dizem que será possível incentivar a execução de políticas públicas a esses estudantes.

O projeto de lei prevê um prazo de quatro anos, a contar da data de publicação da lei no Diário Oficial da União, para o cumprimento das regras voltadas a esse segmento estudantil.