quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Os (Des)caminhos da Educação Paulista

A educação paulista há 16 anos esta sendo administrada pelo mesmo partido, desse modo, todos poderiam acreditar que os resultados obtidos fossem de referência, contudo as mudanças de rumo no maior estado da federação causa sério prejuízo aos alunos e como consequência na qualidade do ensino.
Claro que algumas ações foram positivas, mas nesse período cada governador e secretário que entrava queria deixar sua marca e com isso, a cada mudança, mais problemas, quando acertava o outro entrava e mudava, pois a competição existe mesmo dentro de um mesmo partido.
Desde 1995, o governo vem impondo drásticas mudanças, sem consultar os professores, gestores e sindicatos, o que demostra total falta de diálogo, sendo assim, os principais envolvidos no processo de ensino e de aprendizagem sofrem cotidianamente com as revoluções milagrosas (que na maioria não apresentam resultados) e os engodos educacionais.
Uma outra característica da educação paulista é a utilização dos meios de comunicação para divulgação de suas ações, contudo nem sempre o que é divulgado, de fato é o que acontece no ambiente escolar e por várias vezes expondo o professor como responsável pela falta de qualidade no ensino, quando o verdadeiro responsável é o governo.
Segue abaixo alguns exemplos que ultimamente mudaram o rumo da educação paulista:
Bonificação por Resultados – BR (LC 1078/2008, Res. Conj. CC/SF/SEP/SGP-1 e 2 de 03/03/2009, Decreto 54173/2009, Decreto 54174/2009, Res. Conj. CC/SF/SEP/SGP-3 27/032009, Res. SE 22, 23, 24 e 25/2009, Resolução Conjunta CC/SF/SEP/SGP-5 07/08/2009, Res. SE 30, 31, 32, 33, 34 e 43/2010) O governo há anos ao invês de dar aumento cria a política de bônus, quem atinge as metas tem até 3 vezes o salário, com isso nem sempre os meios são licitos para atingir os resultados, pois na verdade para o governo o que vale é o número e os indices nas avaliações institucionais e não a qualidade. Estes números sem uma ação efetiva de intervenção não trará nem um benefício para a escola e a sociedade. O engodo maior e divulgar que os professores podem ganhar até 15 mil reais, MENTIRA até hoje nunca vi nenhum funcionário ganhar este valor, até pq os salários são baixos.
Programa Ler e Escrever/Programa Intensivo no Ciclo (Res. SE 83 e 86/2007, Res. SE 86,90 e 96/2008, Res. SE 66 e 92/2009) Programa de alfabetização muito rico, correto, com ações diretas e pontuais afim de garantir o processo de letramento para todos os alunos, o problema e que esse programa mostra o quanto estamos atrasados, pois as técnicas usadas na sua maioria são de 1983. Mas como na história da educação brasileira, sempre a educação básica copiou as ações de outros países, sem desenvolver uma ação efetiva em função de suas necessidades e especificidades. Entretanto, se faz justo e necessário deixar claro que o governo tem sérias preocupações com este segmendo de ensino. O material é adequado e os professores são capacitados para a ação. O engodo apenas é a história de dois professores no primeiro ano, isso não existe, o governo deveria falar a verdade, existe um professor e um estudante que esta matriculado no segundo semestre no curso de pedagogia e letras, mas quem faz letras só tem a opção de estudar sobre alfabetização no final do curso, com isso o professor regente perde muito tempo treinando e capacitando esse aluno-professor. Os estudos mostram que um professor para 20 alunos tem muito mais resultado do que dois para 40 alunos.
Concurso Público/Contratação temporária/Terceirização (Decreto 53.037, 53.161/08, Decreto 55144, 54556, 54682/2009, LC 1093/2009, Instrução DRHU-2/2009, Res. SE 80, 87, 90 e 91/2009, Res. SE 02, 08,09, 26, 29 e 44/2010, Decreto nº 55.983 e 56.002/2010) Todos concordam que professores efetivos criam um vínculo na unidade escolar e os estudos comprovam a melhora na qualidade de ensino, mas o governo criou uma nova fase no concurso público e com isso mais um engodo e desperdício de dinheiro. Os professores escolheram a escola antes de terminarem o curso, muitos estão fazendo apenas pelo ponto ou pela ajuda de custo, que antes era um valor e depois passou a ser outro, antes era uma carga horária, agora é outra, ou seja, o governo não pensou na prática na hora de criar a lei, e com isso mais um engodo. As escolas sofrem com a terceirização dos serviços e quando tem problemas com a justiça do trabalho são abandonadas e os gestores precisam administrar todos os problemas sozinhos e muitas vezes os sindicatos ajudam muito mais do que o governo. Quanto a contratação temporário tem sido um terror, como pensar em educação de qualidade, quando os profissionais da educação naõ sabem se vão ou não continuar na escola, como alguém pode desenvolver um bom trabalho, sabendo que não conitnuara naquele espaço de aprendizagem no ano seguinte ou depois de alguns meses.
Contratação por Tempo Determinado – Servidores admitidos após 02/06/2007 (LC 1010/2007, Comunicado Conjunto UCRH/CAF-1/2008, LC 1093/2009, Decreto 52.682/2009, Res. SE 67 e 68/2009, Instrução Normativa UCRH 2/2009, Comunicado EATII/DRHU de 11/03/2010) Só na educação paulista que professor é tratado por letra: F, L, O, V, S, I, essas categorias possuem deveres iguais, mas direitos diferentes, isso só aumenta o descontentamento da classe. O governo não bancou a prova do OFA e teve que permitir a contratação de professores que nem fizeram a prova, todos já sabiam que isso iria acontecer, o governo só aprende quando as situação aperta, mas isso ele nao divulgou na imprensa, apenas que os professores contratados passariam por prova, mas a falta de professores isso como sempre foi camuflado.
Escola de Tempo Integral (Res. SE 89/2005, Portaria Conjunta Cenp/DRHU/2006, Instrução CENP 08/12/2006, Res. SE 93/2008, Res. SE 07/2010) A necessidade de escola de tempo integral é um fato, a própria legislação obriga os sistemas de ensino, mas a escola de trmpo integral em São Paulo é piada, os alunos ficam na escola as vezes como castigo, sem contar a falta de infraestrutura e condições para a realização das oficinas curriculares. Em muitos lugares até apelidaram de escola de tempo infernal, triste, muito triste.
Escola de Formação e Aperfeiçoamento de Professores do Estado de São Paulo (Decreto 52.833/2008, LC 1080/2008, Decreto 55.717/2010, Res. SE 42/2010) Não sei bem quem será formado por essa escola, se for da mesma forma que estão desenvolvendo o curso da terceira fase do concurso é uma palhaçada, para quem não sabe ao responder as questões no sistema da SEE o mesmo informa quando o professor comete algum erro, sendo assim todos passarão literalmente pela escola de formação. Cadê a qualidade? se errar o computador dá a resposta certa.
Jornadas de Trabalho Docente (LC 1094/2009, Decreto 55078/2009) Mais um engodo, cria-se jornadas que muitos professores não conseguer assumir, o governo sabe disso, mas não faz nada para mudar, sempre promete alguma solução, mas esta nunca vem. Apenas como dado, um professor que acumula cargo e tem uma jornada inicial e uma integral, tem uma carga de 64 aulas semanais, qualquer pessoa sensata sabe que não tem como ter qualidade com tamanha carga de trabalho.
Licença Saúde – DPME (Decreto 29180/1998, Decreto 51738 e 52088/07, Comunicado DPME-6/2006, Comunicado UCRH 30/2008,LC 1041/2008, LC 1.123/2010) HUMILHAÇÃO, essa é a sensação da grande maioria que depende de licença médica e do dpme, primeiro pq os funcionários da educação não podem ficar doente, o governo permite apenas seis consultas ao ano, claro que precisa regularizar a baderna que estava antes, mas dessa forma só piora, pois os professores e gestores estão trabalhando doente, com pressão para bônus, cumprimento do IDESP, e quando ficam ainda mais doentes e precisam se ausentar, passar pelo descaso da perícia médica, lá os péritos nem olham no rosto da pessoas e muitos não respeitam os laudos médicos e como advinhas ou possuidores de bola de cristal estabelecem como deuses os seus vereditos. Qualidade não combina com humilhação, não façam com os professores, o que o governo repudia e com razão que seja feito com os alunos.
Progressão Continuada (Indicação 08 e Deliberação 09 CEE/1997) Em tempos de eleição, todos focam na progressão continuada, claro que ninguém e contra a progressão, o que todos são contra e com toda a razão e com o descaso junto ao aluno, que passa anos na escola e não aprende nada. O problema e a forma como a progressão é feita na rede estadual, a legislação é muito claro, o aluno avança, mas suas dificuldades devem ser sanadas ao longo dos anos, sendo assim se respeita o tempo, limite e forma de aprender de cada aluno, a escola dessa forma respeita a diversidade cognitiva, contudo, sabemos que isso não acontece, talvez por falta de conhecimento das estratégias, ou por falta de vontade política mesmo, a educação é vista muito mais pelo lado numérico do que pelo lado humano e com isso sofre o aluno que fica durante o ensino fundamental e médio e ao término tem sua produção textual anulada no SARESP pq o corretor não conseguiu ler, triste, mas real.
Proposta Curricular do Estado de São Paulo (Res. SE 76/2008) O governo precisava mesmo organizar o curriculo da rede, estabelecendo o que deve ser ensinado em cada série e em cada bimestre até para garantir a equidade e uma possível qualidade, até pq a lei assim determina, o que acho estranho é o governo querer impor para todos a mesma forma de ensinar, assim fazemos uma lavagem cerebral. Os cadernos de aprendizagem é uma cartilha para o educador paulista, mas para que estes cadernos, se o governo federal, por meio do PNLD, envia livros para todos os alunos, o governo poderia investir o dinheiro em outras ações. Outra coisa muito importante, uma das ações principais da escola é desenvolver a criticidade, mas só podemos potencializar nos alunos, se os professores puderem também desenvolver a sua, mas isso é coisa raro nestes 16 anos. A mordaça sempre se faz presente de forma direta ou indireta.
Reforço e Recuperação Paralela (Res. SE 92 e 93/2009, Instrução CENP 11/01/2010, Instrução Conjunta CENP/DRHU 02/02/2010) Esse foi o último engodo governamental, o próprio secretário escreveu em um grande jornal que o programa multiplicando saber (aquele que pagava para o aluno que não sabe, para o aluno que sabe e para o coordenador que tinha que montar a turma) não tinha nenhum vínculo com a rede, apenas esqueceu de tirar então o logo do governo e da secretaria do release que foi distribuido e que por muito tempo ficou no site da SEE. A recuperação e reforço tem sido um grande problema, esse ano até que o governo evoluiu ao atribuir no começo do ano uma carga horária para recuperação, mas como sempre, começou bem e depois perdeu-se no caminho, e até agora ninguém encontrou o rumo.
Claro que tudo o que foi escrito refere-se a um olhar e respeito a todos os outros, por isso o blog sempre foi um espaço aberto a todos, aos que concordam e aos que discordam.
Á todos o meu muito obrigado pela sempre visita.
Certo do carinho e atenção. Vamos agora refletir, discutir e pensar, aqui tudo isso é muito bem vindo.

Um comentário:

  1. Concordo totalmente.
    Não há aprendizado, não crescimento, não há humanização se tomarmos a educação como ato capitalista envolvido na velocidade em busca do lucro, da estatística perfeita, que quer demonstrar a eficácia fugaz.
    Não há esperança no horizonte da "tucanidade".
    ernesto

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