segunda-feira, 10 de maio de 2010

Escola de R$ 1.700 aconselha aula particular

Fonte: Folha de São Paulo - 10/05/2010
Ana achou que ao pagar uma mensalidade de R$ 1.700 na escola Móbile, na zona sul de São Paulo, estaria despreocupada com a educação do filho de 12 anos. Mas surpreendeu-se ao ser chamada pela coordenação, no terceiro mês do ano letivo, e ouvir a recomendação de que deveria pagar um professor particular para ensinar o filho as matérias vistas na escola.
A coordenadora já tinha, inclusive, o nome e o telefone de um profissional para indicar. "É uma pessoa que trabalha com a escola há muito tempo, que ajudará no reforço e na organização dele", ouviu. Tudo isso por mais R$ 70 a hora.Roberta, mãe de duas meninas, uma que estuda e outra que já estudou na Móbile, ouviu o mesmo conselho da coordenação. (Os nomes foram trocados a pedido das famílias).
Se para educadores a prática de indicar professor particular demonstra uma deficiência da escola, o Conselho Nacional de Educação e o Procon vão ainda mais longe: dizem que ela é irregular. Mas as escolas privadas a fazem com frequência.O fato foi confirmado por três professores particulares, indicados por escolas caras da cidade. Com mensalidades que superam os R$ 1.000, Santa Maria, Mater Dei e Lourenço Castanho estão na lista.
"A coordenação nos indica e a gente faz uma avaliação do que o aluno precisa. Às vezes, é uma necessidade de aprender a se organizar. Em outras, há uma lacuna de conhecimento", conta Newton Ishimitsu, um dos donos da Aliança Educacional, uma casa na Vila Nova Conceição, zona sul, que oferece reforço escolar. A empresa tem até 900 alunos por ano e cobra R$ 75 a hora de aula.
Outra professora particular indicada por escolas diz que mantém um contato frequente com as instituições. "Vou lá quase toda semana para mostrar o que estou fazendo. É um trabalho de equipe, só que não faço parte do corpo docente da escola", diz Monica Marra, que cobra até R$ 80 a hora de aula.
Roberta decidiu seguir o conselho da coordenação da Móbile. Desembolsa R$ 280 ao mês para que uma professora ajude a filha a sanar as dificuldades em ciências. Raquel tem aulas particulares uma vez por semana durante o ano letivo inteiro.A irmã mais velha passou pelo mesmo caminho. Mas deixou a escola no meio do 1º ano do ensino médio, com dificuldades de acompanhar o conteúdo.
"Em uma escola super forte, sempre vai parecer uma dificuldade. Se eu quero uma escola boa para minha filha e eu posso pagar uma professora particular para ela ficar melhor, eu pago", diz a mãe.Ana, no entanto, discorda. "É uma escola muito cara. E eu vou ter que pagar uma outra pessoa para ajudar meu filho a se organizar, a ter uma complementação? É incoerente". Os colégios particulares afirmam que só fazem o encaminhamento em último caso.
Não foi o caso de Ana, entretanto. A recomendação da Móbile foi feita antes mesmo de as primeiras notas do ano saírem. "A sensação que eu tenho é que a escola está nesse momento desistindo dele. Me dizendo: "eu não dou conta, chame uma outra profissional para complementar". Parece que as escolas só estão querendo ficar com os alunos que assegurem a elas um ótimo posicionamento no ranking no Enem".

2 comentários:

  1. Concordo com Ana! Também sou mãe e meu filho de 6 anos estuda no Colégio Emilie de Villeneuve, no 2ºano do Ensino Fundamental, tb escutei da coordenação a mesma recomendação "procurar uma pedagoga para auxiliar nos estudos e na organização". Entretanto não tenho visto nenhum esforço por parte da escola para auxiliar os alunos e fazer a parte dela. Já levo meu filho na fonoaudióloga, na psicóloga, e ele tb está fazendo exames para déficit de atenção! Sugeri uma escola de reforço, mas a coordenação disse que "ele precisa de atenção induvidualizada". O que mais a escola vai delegar para outros profissionais??

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  2. De fato, a escola precisa também assumir sua responsabilidade, é mto fácil e comodo indicar para atendimento individualizado, haja vista que na hora da matrícula para atrair os pais utilizam todos os argumentos inclusive da vantagem do atendimento individualizado, depois não dão conta e jogam toda a responsabilidade para a família, claro que alguns casos a escola sozinha não dara conta, mas o que se percebe hoje em dia e que a escola não faz mto esforço para ajudar e trablhar só com quem não tem problema alguma é fácil, mas eu como educador acho bem chato, o bacana da profissão é justamente o desafio transformador.

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