sexta-feira, 26 de junho de 2009

É preciso usar "ganchos curriculares" para colocar a cultura brasileira na sala de aula.

Fonte: 26/06/2009 - 09h41 - Karina Yamamoto - Editora de UOL Educação
Os professores bem sabem: há data definida para as manifestações da cultura brasileira entrarem na sala de aula. São os meses de junho e agosto, a pretexto das festas juninas e do chamado mês do folclore. No entanto, nem nessas ocasiões, genuínos especialistas na cultura popular, como o mineiro mestre Nelson Jacó e o paranaense mestre Leonildo da Rabeca, têm espaço na escola para transmitir o que sabem aos mais novos.Mestres por notório saber em suas comunidades - e, por isso, com a titulação incorporada ao nome -, os dois vieram a São Paulo no último final de semana para debater de que maneira a cultura popular poderia entrar na escola. Na opinião, do músico paulista Paulo Dias, há duas estratégias que poderiam ser adotadas para incluir a cultura popular na gama de conhecimentos transmitidos. Uma delas é ter um mediador que consiga "traduzir" a cultura popular para o contexto dos alunos. "Se você colocar um desses mestres num ambiente que não tenha sido preparado [para recebê-lo], ele será ridicularizado", explica Dias. Ganchos curricularesA outra maneira é usar "ganchos curriculares" para apresentar a cultura popular. Um dos exemplos que o músico dá é em relação ao jongo. "Reproduzir alguns movimentos de dança é [ensinar o que é] o jongo?", provoca. "Faltam conteúdos mediadores, que vão ligar aquela dança que você está macaqueando à história profunda."Os temas transversais são, na opinião de Paulo, os trunfos para os professores interessados em trazer a cultura popular para a escola. "Cada vez que [o professor] toca na cultura do café não pode mais dar só a história dos barões", exemplifica. Muitos cantos do jongo, chamados de pontos, ilustram esse período da história.Outro exemplo são as cavalhadas, famosos eventos em Pirinópolis (GO) e São Luis do Paraitinga (SP). As festas demonstram a "conversão a ferro e fogo" e podem ser estudadas no momento em que se fala das guerras de reconquista, segundo Paulo Dias."Há uma infinidade de maneiras e disciplinas em que a cultura popular pode estar ao lado dos conteúdos curriculares", conclui o estudioso de cultura popular, que é bacharel em piano pela Unicamp (Universidade Estadual Paulista). Desejo de ensinar"Quem dera eu ter lugar de aula [para ensinar o que eu sei], tenho 66 anos e queria passar essa força [seus conhecimentos] para as crianças", diz mestre Leonildo da Rabeca, morador de Abacateiro, interior do Paraná. Mestre Leonildo é um multi-instrumentista: toca, além da rabeca (daí sua alcunha), viola e violão, sempre dando destaque ao fandango. Ele ensina sua arte e costuma construir seus próprios instrumentos.Morador de Jequitibá, em Minas Gerais, mestre Nelson Jacó emenda o companheiro de debate: "Não tem aula, [e por isso] a cultura vai morrer onde ela existe". Mestre da viola e compositor, Jacó, também demonstra sua preocupação em transmitir o conhecimento: "Se eu pudesse, tudo o que eu sei eu deixava na cabeça de todo mundo".Os mestres Nelson Jacó e Leonildo da Rebeca estiveram ao lado de Paulo Dias em um debate promovido pela Fundação Tide Setúbal no último sábado (20), na sede da instituição localizada em São Miguel Paulista.

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