segunda-feira, 21 de março de 2011

Professor "novato" desiste de aulas na rede estadual de SP

Precisamos tomar cuidado com a questão da normalidade. Penso que não é normal. Vamos deixar algumas coisas claras, para ter direito ao certificado de aprovação o professor não precisa tomar posse e entrar em exercício, a lei diz apenas que passe pelas fases do concurso. Então esse argumento é falho. Acredito que o governo precisa sim, olhar com atenção para essas questões, já alguns anos tem sido muito alto o números de professores exonerados ou afastados da sala de aula. Temos sim um problema que é real, a falta de vontade dos alunos em aprender. Claro que o professor tem que ensinar, mas para isso não basta apenas boa vontade, se faz necessário uma ação articulada entre todos os envolvidos. Mas ainda esbarramos na falta de equipamentos e condições de trabalho. A realidade é cruel. Os próprios meios de comunicação divulgam isso o tempo todo, sem contar ainda com os casos de violência que não são pontuais como querem que a gente acredite. Com isso perdemos todos, os alunos, a família, os professores e a sociedade.
Fonte: FÁBIO TAKAHASHI Folha de São Paulo 21/03/11
Formado na USP, Edson Rodrigues da Silva, 31, foi aprovado ano passado no concurso público da rede estadual para ensinar matemática. Passou quatro meses no curso preparatório obrigatório do Estado para começar a lecionar neste ano no ABC paulista. Ao final do primeiro dia de aula, desistiu.
"Vi que não teria condições de ensinar. Só uma aluna prestou atenção, vários falavam ao celular. E tive de ajudar uma professora a trocar dois pneus do carro, furados pelos estudantes. Se continuasse, iria entrar em depressão. Não vale passar por isso para ganhar R$ 1.000 por 20 horas na semana."
Silva diz que continuará apenas na rede privada. Como ele, outros efetivados neste ano pelo governo já desistiram das aulas, passados apenas 39 dias do início das aulas, sendo 25 letivos.
Até sexta-feira, 60 já haviam finalizado o processo de exoneração, a pedido, média de mais de dois por dia letivo. Volume não informado pela Secretaria da Educação está com processo em curso.
A gestão Geraldo Alckmin (PSDB) diz ser normal o número de desistências, considerando a quantidade de efetivações (9.300). Educadores, porém, discordam.
Para a coordenadora do curso de pedagogia da Unicamp, Maria Marcia Malavasi, "o cenário é triste; especialmente na periferia, os professores encontraram escolas sem estrutura, profissionais mal pagos, amedrontados e desrespeitados."
DESMOTIVAÇÃO
As desistências têm diferentes motivações. Entre as principais citadas por exonerados ouvidos pela Folha estão falta de condições de trabalho (salas lotadas, por exemplo), desinteresse de alunos e baixos salários.
"Muitos alunos não apresentam condições mínimas para acompanhar o ensino médio e têm até uma postura agressiva com o professor", disse Juliana Romero de Mendonça, 25, docente de química. "A realidade da escola é diferente da mostrada no curso", afirmou Gilson Lopes Silva, 30, de filosofia.
O concurso selecionou docentes de todas as matérias do final dos ensinos fundamental e médio, séries com muitos temporários e mais problemas de qualidade.
Para Maria Izabel Noronha, presidente do sindicato do magistério, além de condições precárias da rede, "a formação nas universidades não é satisfatória, pois elas trabalham com uma escola irreal, de alunos quietinhos". Ela exige que o Estado dê mais tempo aos docentes para a formação em serviço.
Estado diz que saída de docentes é normal
A Secretaria da Educação informou que considera normal o volume de docentes novatos que desistiu da rede.
A pasta afirmou que devem sair do sistema 10% dos recém-efetivados (cerca de 900 professores), mas não informou em qual prazo podem ocorrer as exonerações.
Segundo a gestão Geraldo Alckmin (PSDB), nem as condições de trabalho oferecidas nem os salários da rede são as causas das desistências.
A secretaria aponta como explicações a situação pessoal de cada professor, como quem arrumou outro emprego ou só queria o certificado de aprovação, que pode ajudar em concursos futuros.
Para o governo, a carreira está atrativa, por conta do bônus por desempenho (que pode chegar a 2,4 salários) e do reajuste com base no mérito (ano passado, 20% dos professores com as melhores notas numa prova ganharam 25% de reajuste). O salário inicial é de R$ 1.834 (jornada de 40 horas semanais).
A professora recém-efetivada Ana Paula dos Santos, 28, elogiou as condições da rede. "Posso fazer aulas diferentes com datashow ou na sala de informática. Se o professor montar uma boa aula, os alunos vão se interessar", disse ela, que leciona biologia em colégio estadual da zona norte de São Paulo.
A secretaria disse ainda que alunos que estudariam com docentes desistentes não ficarão sem aula, pois há reposição com temporários.
E esses professores provisórios serão substituídos no ano que vem, quando devem entrar nas escolas estaduais 25 mil novos concursados, também aprovados no concurso do ano passado.
Desde 2004, a rede estadual não contava com um concurso tão amplo para efetivar professores do 5º ao 9º ano do ensino fundamental e do ensino médio.

2 comentários:

  1. Carlos - Vale do Paraiba21 de março de 2011 às 21:27

    Desiste mesmo!!!

    Salário inadequado, alunos que na sua maioria não querem nada com nada então fica dificil,enquanto não tivermos uma verdadiera política de valorização dos professores nada vai mudar. Li hoje que estão pensando em dar bônus para universidades publicas, legal, mais fica uma pergunta será que nossos alunos querem ir para universidade? (todos) aqui no interior vocês podem dizer onde tem universidade para todos? perto de casa? se eles (alunos) forem para longe quem vai custear sua estadia? então gente pé no chão a nota do SARESP tem de servir para reprovar o aluno enquanto isso não acontecer vamos chover no molhado....

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  2. Acredito que muitos alunos vejam nos professores o reflexo das injustiças sociais, ele é o mais perto que eles podem chegar do governo, o professor é um servidor, e assim quando os pais são maltratados em um hospital ou posto de saúde, são demitidos e não conseguem uma colocação, são humilhados, etc e chegam em casa inconformados este inconformismo é passado para o jovem, que insconcientemente se arma contra o representante mais próximo do governo e o atinge no que é mais importante sua dignidade. Nenhum trabalho persiste sem dignidade e o confronto não é apenas com o outro e sim consigo mesmo. A situação chegou ao limite e agora precisamos resgatar valores pessoais e morais.

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