O que vocês acham?
Aulas de idiomas, música e até visitas a biblioteca já são usadas no ensino para crianças com idade a partir de um ano
Há evidências científicas de que atividades, quando trabalhadas adequadamente, terão impacto positivo ao longo de toda a vida escolar
    
| Rafael Andrade/Folha Imagem
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 Guilherme Serpa (à frente), de um ano, em aula de inglês na Escola Parque da Gávea, no Rio de Janeiro; ele ainda faz educação física e visitas diárias à biblioteca
    ANTÔNIO GOIS - Folha de São Paulo - DA SUCURSAL DO RIO 
 Guilherme Serpa tem aulas  de inglês duas vezes por semana, mesma frequência das classes de música. Às sextas, faz  educação física. Já a ida à biblioteca acontece diariamente.  Essa rotina não seria nada demais na vida de um estudante  não fosse Guilherme uma  criança com apenas um ano.
Para muitos pais, atividades  como essas desde cedo podem  parecer um exagero. De fato,  dependendo de como são desenvolvidas, podem resultar  apenas num superestímulo  inútil. No entanto, quando trabalhadas adequadamente, há  evidências científicas de que terão impacto positivo ao longo  de toda a vida escolar.
Boa parte dessas evidências  vem de descobertas recentes  sobre o funcionamento do cérebro que, aos poucos, começam a ser postas em prática em  algumas escolas brasileiras.
O ensino de idiomas é o  exemplo mais comum. Sabe-se  hoje, graças a técnicas menos  invasivas do estudo do cérebro,  que quanto mais cedo uma  criança é exposta a uma língua  estrangeira, mais facilidade terá para aprender e falar sem sotaque. Após os dez anos de idade, o aprendizado também é  possível, mas exigirá do cérebro esforço maior.
Mas não se espera que uma  criança de um ano aprenda como adulto. Na Escola Parque da  Gávea, no Rio, onde Guilherme  estuda, o atendimento para  crianças a partir de 12 meses  começou neste ano.
Na aula de inglês, a professora canta e brinca com as crianças. O objetivo é oferecer um  primeiro contato com a língua  de uma forma lúdica.
Em São Paulo, a escola Porto  Seguro antecipou o ensino do  alemão. Desde 2007, o primeiro contato com o idioma passou  a ocorrer com 18 meses, e não  mais aos cinco anos.
Concentração
O aprendizado de um segundo idioma não é a única atividade com base na neurociência  aplicada em sala de aula. Outra  linha de pesquisa é o impacto  que a arte exerce na melhoria  do aprendizado.
A pesquisadora Elvira Souza  Lima -com formação em neurociências, música, psicologia e  antropologia- diz que essas  atividades podem ser utilizadas  para melhorar a concentração  do aluno, uma das dificuldades  mais comuns em jovens atualmente.
"Uma atividade artística em  grupo exige foco e atenção. São  comportamentos construídos  necessários para o aprendizado  de todas as disciplinas. No caso  da música, por exemplo, as redes neuronais que se formam  com esse aprendizado são as  mesmas utilizadas para leitura  e escrita", diz a pesquisadora.
Na Escola Internacional de  Alphaville, em Barueri -onde a  exposição ao inglês também  acontece já na educação infantil-, a diretora-pedagógica  Norma Viscardi conta que antes de algumas aulas à tarde,  quando o cansaço é maior, há  uma atividade com música para  melhorar a concentração.
Apesar do interesse crescente de educadores pela neurociência, os cientistas alertam que suas descobertas não devem ser encaradas como panaceia para os problemas educacionais. Uma evidência constatada em laboratório não deve ser vista de forma determinista, mas como mais um elemento a ser considerado no processo de aprendizagem, influenciado também por fatores culturais, econômicos e regionais.
No Rio Grande do Sul, por  exemplo, o sindicato das escolas particulares está organizando um grupo de estudo com colégios do Estado para atualizar  os professores com as novas  descobertas na área. A preocupação, no entanto, é não tratar  o tema como mais um modismo educacional.
"Queremos colocar esses temas na pauta da discussão pedagógica, mas ninguém vai ignorar a experiência acumulada  do professor", diz Monica  Timm, diretora do sindicato.
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